Por causa da pandemia, pela primeira vez desde o início do indicador, estado de São Paulo fica abaixo da meta em todas as etapas de ensino. Especialistas afirmam que comparação entre redes foi comprometida pelas condições diferentes durante a suspensão das aulas presenciais em 2020 e 2021. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2021 para o Estado de São Paulo, evidenciou os impactos já antecipados pela suspensão das aulas presenciais durante a pandemia do novo coronavírus. O impacto maior foi nos anos iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano), única etapa com queda na comparação da edição 2019, de 6,7 para 6,3. Nos anos finais do fundamental (do 6º ao 9º ano), o Ideb ficou estagnado em 5,5. Já no ensino médio, o indicador foi de 4,6 para 4,7.
O Ideb 2021 foi divulgado na manhã desta sexta-feira (16) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Especialistas explicam que os dados dessa edição representam um retrato específico da pandemia, e oferece pouca base de comparação entre redes e com relação à série histórica (leia mais abaixo).
Resultados por rede de ensino
Os anos iniciais do fundamental eram a única etapa em que as escolas paulistas já haviam batido a meta estipulada para 2021, que era de 6,7. Apesar de o estado ter chegado a esse patamar em 2019, ele agora recuou para 6,3, patamar equivalente ao de 2015, e 0,4 ponto abaixo do esperado.
Ideb 2021 dos anos iniciais do ensino fundamental para o Estado de São Paulo (todas as redes)
Ana Carolina Moreno/TV Globo
Nos anos finais, a meta para 2021 era 6,1. Nessa etapa de ensino, o Estado de São Paulo estava abaixo da meta desde a edição de 2013. Com a estagnação, a distância entre o Ideb realizado e o que havia sido projetado aumentou de 0,4 para 0,6 ponto.
Ideb 2021 dos anos finais do ensino fundamental para o Estado de São Paulo (todas as redes)
Ana Carolina Moreno/TV Globo
No ensino médio, o indicador também está abaixo da meta desde 2013. Apesar do avanço de 4,6 para 4,7 nessa etapa, pelas projeções feitas pelo Inep há 15 anos, o Estado de São Paulo já deveria ter chegado a um Ideb de 5,4 em 2021.
Ideb 2021 do ensino médio para o Estado de São Paulo (todas as redes)
Ana Carolina Moreno/TV Globo
A edição deste ano, além do impacto da pandemia, é especial porque, quando foi criado, o indicador estipulou como meta que a média do Brasil nos anos iniciais do ensino fundamental saísse de 3,8, em 2005, e chegasse ao patamar 6 em 2021, considerado pelo Inep correspondente a um nível de qualidade “comparável ao dos países desenvolvidos”.
A escolha do ano foi tomada para que a divulgação ocorresse durante as comemorações do bicentenário da Independência do Brasil.
No entanto, na média nacional dos anos iniciais do fundamental, também houve queda. Em 2019, o Brasil teve Ideb de 5,9. Em 2021, o índice caiu para 5,8.
Conheça os problemas que afetaram os dados do Ideb 2021
Resultados entre estados não são comparáveis, dizem especialistas
Esse não é o primeiro indicador mostrando que a pandemia do novo coronavírus impactou a qualidade da educação. O Brasil foi um dos países que passou mais dias com as aulas presenciais suspensas, e dados do próprio governo paulista já mostraram a queda no aprendizado. Em março, os indicadores do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) mostraram que, no ensino médio, por exemplo, teve o pior desempenho da série histórica.
Mas quantificar exatamente qual foi esse efeito é uma tarefa mais complexa, e a metodologia de cálculo do Ideb não é capaz de mostrar as nuances de cada rede.
“Os desafios foram desiguais”, resume o especialista em educação Ernesto Martins Faria, diretor-fundador do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede).
Como o Ideb é composto por dois indicadores (a nota média do Sistema de Avaliação da Educação Básica, o Saeb, e a taxa de aprovação dos estudantes), a pandemia exigiu medidas extraclasse que impactam diretamente no cálculo. (veja abaixo como ele é feito).
“O Conselho Nacional de Educação [CNE] deu uma recomendação que se aprovasse os alunos em 2020. Só que isso seguiu acontecendo em alguns estados em 2021, por uma maior dificuldade de acompanhamento [dos alunos]”, explica Faria. “Então é um processo quase de aprovação automática, para facilitar a rematrícula.”
“Com isso, tem alguns estados em que as taxas de aprovação estão infladas, e mais altas do que a gente esperaria. E outros em que talvez as taxas de aprovação parecem mais fidedignas com o que a gente via antes da pandemia.” (Ernesto Martins Faria, diretor-fundador do Iede)
Além disso, o especialista ressalta que as condições na hora da aplicação da avaliação, que ocorreu entre novembro e dezembro de 2021, também foram muito diferentes dos anos pré-pandemia.
Para o diretor substituto de Avaliação da Educação Básica (Daeb), Rubens Campos de Lacerda Júnior, tecnicamente os dados do Saeb 2021 são comparáveis com as edições anteriores. Mas o contexto deve ser levado em conta.
“O nosso instrumento de medida utilizou os mesmos constructos das outras edições, o que significa que, do ponto de vista pedagógico, estatístico, técnico, essa comparabilidade é possível. Mas nós precisamos focar agora nesse contexto da pandemia que foi vivenciado em 2020 e em 2021. O que significa isso? Significa que qualquer comparação precisa ser cautelosa, cuidadosa, com interpretação profunda dos dados. Precisamos entender cada estado, qual era a situação, quais eram as normativas, qual era a situação da pandemia em cada período do ano, nos municípios e nas próprias escolas.”
Perguntas e respostas sobre o Ideb
O que é o Ideb? É o Indicador de Desenvolvimento da Educação Básica, criado em 2007, depois que a Prova Brasil passou a ser censitária para o ensino fundamental, ou seja, aplicada em todas as escolas do país.
O que mede o Ideb? O Ideb mede a qualidade de ensino das escolas individualmente, das redes de ensino (municipal, estadual, privada), dos municípios, do estado e do Brasil, para as três etapas de ensino: anos iniciais do fundamental, anos finais do fundamental e ensino médio.
Qual é a periodicidade do Ideb? O Ideb é calculado e divulgado a cada dois anos. Sempre em anos pares, mas com dados do ano anterior. Por isso temos Ideb apenas dos anos ímpares. A última prova foi aplicada em 2021, e a anterior, em 2019.
Todos os alunos são avaliados pelo Ideb? Não. A prova de avaliação aplicada com estudantes de três anos: o 5º ano do ensino fundamental, o 9º ano do ensino fundamental, e o 3º ano do ensino médio. Por isso, o Brasil tem três Idebs diferentes, não existe apenas um. É um para cada etapa de ensino.
Como é calculado o Ideb? Ele é o resultado da multiplicação simples de dois indicadores: o resultado padronizado do Saeb, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (nome pelo qual hoje é conhecida a Prova Brasil), considerado o APRENDIZADO, e a taxa de aprovação, considerada o FLUXO.
APRENDIZADO: É um número dentro de uma escala de 0 a 10. Ele é resultado de um cálculo que leva em conta a nota média dos estudantes que fizeram a prova Brasil, mas também a média nacional do Saeb 1997, ano de definição da escala. Portanto, é uma nota “padronizada” dentro de uma escala, e comparando o desempenho dos alunos no ano do Saeb com o ponto de partida considerado pelo indicador.
FLUXO: É um número dentro de uma escala de 0 a 1, que representa a porcentagem média de estudantes de cada etapa aprovados naquele ano, ou seja, que não reprovaram nem abandonaram. Esse componente, tirado do Censo da Educação Básica, é importante porque não é apenas o aprendizado do aluno que deve ser levado em conta, mas também o tempo que ele leva para concluir aquela etapa de ensino. É uma medida também da eficiência da rede ou da escola em garantir essa conclusão.
EXEMPLO 1: Se uma escola tem nota 6 de aprendizado, e taxa de aprovação de 0,79 (ou seja, 79% dos alunos aprovados). Na conta 6 X 0,79, a nota do Ideb dessa escola vai ser 4,7.
EXEMPLO 2: Se uma rede tem nota 5 de aprendizado, mas 0,95 de fluxo (só 79% dos alunos são aprovados): 5 X 0,95 = 4,7. Ou seja, duas escolas com indicadores diferentes, mas o mesmo Ideb.
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