Cancelamento da viagem de Haddad à Europa aumentará pressão por medidas de cortes de gastos

O cancelamento da viagem do ministro da Fazenda à Europa aconteceu com Fernando Haddad com um pé na porta do avião, já que ele embarcaria nesta segunda-feira (04).

Segundo sua assessoria, a desistência veio depois de um “pedido do presidente Lula” para que ele se dedique aos “temas domésticos”. E não há tema doméstico mais urgente do que a definição das medidas de cortes de gastos que vêm sendo proteladas há semanas.

A agenda de Haddad na Europa, com passagens de Paris a Bruxelas, não foi detalhada, mas já carecia de um fator fundamental: a prioridade.

Na semana em que o dólar alcançou a maior cotação desde o auge da pandemia em 2020, R$ 5,86, muito em função da incerteza com a politica fiscal, o que seria mais importante do que conter a crise de confiança sobre a gestão do governo?

Além da insegurança com os estragos que o desequilíbrio nas contas públicas podem causar na economia, os brasileiros também vivem o nervosismo com a eleição nos Estados Unidos.

A disputa entre Kamala Harris e Donald Trump elegeu a próxima semana como a mais importante do ano, da década, do milênio. E o que mesmo faria o ministro da Fazenda na Europa nesses dias?

Essa foi a pergunta que não quis calar na Faria Lima e entre executivos de empresas do setor não financeiro. A disparada do dólar afeta a todos por encarecer importações, inclusive aquelas dos sites chineses de roupa que vendem a rodo no país.

Ao provocar uma mudança na formação dos preços, o dólar caro impacta inflação na veia e dificulta o trabalho do BC em levar o IPCA para a meta de 3%.

E por falar em BC, além do pacote fiscal e da eleição americana, a semana também terá a reunião do Copom, com uma nova e mais intensa alta da Selic.

Atualmente em 10,75%, a taxa básica deverá subir para 11,25%, ainda distante do patamar hoje visto como necessário para conter a disparada dos preços.

No final da semana passada, os juros futuros negociados no mercado embutiram uma taxa em 13% nos preços dos ativos.

A crise que afeta o Brasil não é econômica, é de confiança.

A desistência da viagem dá a Fernando Haddad uma chance de retomar a liderança na condução das expectativas sobre sua gestão.

O custo da recuperação da credibilidade da Fazenda já aumentou, mas essa conta não pode recair sobre o país enquanto o ministro estaria pela Europa definindo qualquer coisa, que não a sustentabilidade do crescimento e a segurança das contas públicas.

Fonte: CNN Brasil

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